sexta-feira, 25 de julho de 2008

Verde vida, rubra sina.


VERDE VIDA, RUBRA SINA

Verde encanto naquela tarde surgiu;
Antigo pranto súbito se esvaiu.
Ah, que canto! Que pureza juvenil!

Quanta alegria num só dia,
Era pura magia... Sorria, corria...
Ela ia, percorria; ele a fitava, sua alma lia...

Quão bela era aquela flor em pleno desabrochar;
Quão pura sua alma, apesar da leve malícia no olhar.
Ah, quanto medo em perdê-la! Tão nova e tantos ventos querendo lha levar.

Tão perto, tangível, pele macia, lábios frementes;
Tão protegida, vigiada. Ah, quanto perigo por trás daquela alva redoma de vidro!
Quão esperto, pouco visível, diamante na mão, silenciosamente cortou o vidro...

Lentamente despiu o anjo de suas asas;
Ah! Aqueles seios! Como arfavam!
Já não mais tocava harpa, apenas suspirava.

O criminoso e a vítima nos meandros da luxuria se esbaldavam;
A taça transbordava, o mar se agitava, a união dos amantes periclitava...
O reduto que os abrigava, aberto estava, sem que soubessem uma sombra os acompanhava.

Ele galgava os ascendentes degraus do prazer;
O anjo flutuava; não mais era puro; conhecera a força da carne e em carne se convertera.
De refém tornou-se seqüestrador; lançou-o, com sua sedução, no labirinto da paixão.

Quanta perdição em notas cristalinas;
Errou o anjo ao cantar, pois abriu a porta para o usurpador roubar seus sonhos de menina.
Mas, o que houve? Não há pranto! Por que estais a sorrir, ó doce menina?

Descia o sol, subia a lua,
Lá estava a menina, completamente nua,
Sedenta, ávida, repleta de luxuria.

Mas, a união dos amantes periclitava;
O reduto que os abrigava, aberto estava;
Sem que soubessem uma sombra os acompanhava.

Há duas semanas encetaram o negro romance,
Sob a égide da lua, protetora dos amantes,
Entregaram-se um ao outro numa fusão de lágrimas, dor e prazer.

A sombra os cobria e sarcasticamente ria;
Trazia nas mãos uma lápide com um epitáfio que dizia:
Aqui jaz um amante, um pedófilo, um mártir da paixão que se apaixonou por quem não devia.

Na face do anjo dois riscos de lágrimas escorriam;
Débil estava ante tanto horror;
Sua tênue voz apenas sussurrou:

Não! Por favor... Deixes meu amor! Eu o amo! Ele não me estuprou!
Sim! Esqueças estas tolices: honra, lei, ódio, ira...
Deixem-nos tecer a nossa história, pois é cedo, não há aurora! Como achas que irei suportar tal memória?

Ah, aquela sombra maldita! Sobre eles pouco ficou. Sem os ouvir,
Levou consigo os seus sonhos e um pesadelo deixou;
Com um só golpe encerrou duas vidas:
Uma não mais respirou; a outra, desde então, apenas vegetou...
Quanto sangue espalhado! Pobre ser condenado à sentença capital!
Qual o seu crime? Os anos haviam avançado!

E agora, ó pai desolado?
Lavastes tua honra! Mas, será que por muito tempo continuarás velado? Não!
Será que valeu apena? Matastes um homem e desolastes a pequena!

Na terra o sangue inocente clamando por justiça;
No cárcere, um velho, a pagar por sua injustiça!
Nesta história só há perdedor! Dissipou-se uma vida, uma liberdade, e o sentido de um viver.

Que não se repita este pecado!
Que prevaleça o amor!
Ouçais, todos vós, este recado:

Não queirais impedir o amor.
Deixe-o florir! Pois o amor não se mata! Não se afugenta!
Quanto mais sufocado, privado do possuir, mais ele se expande levando a loucura o existir.

Não há coações, ameaças, castigos, que estremeçam ou afugentem o amor!
É ele, um colosso! Uma grande possessão de espíritos!
Está imune a exorcismos e flagelos! Quando se encarna, desce o céu, sobe o inferno; demônios e anjos se encontram e se amam no festim dos sentimentos, emoções e pecados.

Só o amor basta...
Eis o meu legado...
“Um dia o amor passou por mim, desde então eternamente passou” ( Sérgio Francisco Baptistella).

4 comentários:

Marcos disse...

Oooi..

Adorei seu Bloog.

Leio sempre que daa..
Gosto de como escreve viuh!

Flew

Sérgio da Costa disse...

Valeu Marcos!
Muito me alegra saber que meus textos lhe agradam.
Um abraço!
Até+

Márcio Correa disse...

Bem se vê aqui que você andou bebendo das fontes da boa poesia brasileira! Lembra muito o Álvares de Azevedo! Parabéns!!!

Sérgio da Costa disse...

Márcio, obrigado pela leitura e comentário!
De fato, eu adoro Álvares de Azevedo e seus nefastos amores ideais.
Um grande abraço!
Espero revê-lo em breve. Tenho alguns textos para lhe apresentar.
Fique em paz!