sábado, 6 de dezembro de 2008

Reflexos da Morte



O meu maior opressor estava a minha frente, inerte, com os olhos pesados e lacrimejados... Olhava-me no fundo dos olhos, e isso me possibilitava penetrar no íntimo de sua alma... ele estava cônscio de que aquele seria o seu fim, mas estava resignado. Sabia das suas culpas, de todos os seus crimes. Sabia que não haveria volta, pois minhas expressões eram firmes e decididas, não havia sinal algum de hesitação. Tudo estava friamente calculado.
Com o punho direito cerrado, e cada vez mais contraindo os dedos contra o cabo de um punhal, preparava-me para golpeá-lo e, assim, livrar-me-ia duma vez por todas daquele terrível algoz que tantos dissabores me causou. Sim, por mais dolorido que fosse era mister levar adiante meu desvairado empreendimento. Pois ali estava o limiar de uma nova vida, a possibilidade de um recomeço. Para meu espanto, causava-me um sádico prazer ver aquele verme sem defesas, entregue a mercê da sorte... de uma sorte que o abandonara... Agora eu dava as cartas. Finalmente me rebelara e levava a termo o meu plano santo. Sim. Agora, finalmente, o velho homem ia morrer para dar lugar ao novo homem, livre das antigas amarras.
Abruptamente fechei os olhos e, num impulso de cólera, lancei-lhe um violento golpe na altura do coração. Reabri meus olhos... Minha mão estava encharcada de sangue. Virei-me para trás e observei uma linda moça correr ao meu encontro toda assustada. Com a respiração ofegante, perguntou:
- Por que quebrastes o espelho? Estás louco? Olhe para sua mão, está cortada... Venha comigo! Vamos procurar um pronto socorro...
Sorrindo parti. Mas antes de sair olhei uma última vez para trás, então fechei aquela porta e nunca mais a abri.